Sabemos que o Porto é um dos vinhos mais famosos e consagrados do mundo, porém surpreendentemente, isso não é suficiente para torná-lo atraente para o consumidor moderno. Por quê?
É quase certo que, na nossa infância, tenhamos visto uma garrafa de vinho do Porto na casa de nossos avós. Portanto, a primeira ideia que temos deste vinho é algo antiquado.
Outra barreira é o fato de o Porto ser um vinho doce, já que o senso comum diz que ‘vinho bom é vinho seco’ tendo em vista os que são feitos a partir de uvas de baixa qualidade e que são adoçados para disfarçar seus defeitos.
Posso afirmar que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Vinhos de sobremesa – feitos com uvas de qualidade e com o propósito de serem doces – são alguns dos estilos mais apreciados pelos maiores especialistas no assunto e os melhores sommeliers do mundo. Tais vinhos, na realidade, exigem técnicas minuciosas para serem elaborados, daí sua complexidade e valor.
Comparemos com um perfume de alto padrão: você já imaginou como ele é feito? A diversidade de essências que são combinadas, quais as origens das fragrâncias, quem as selecionou e como foram manipuladas até serem colocadas em um frasco refinado para serem vendidas? Elaborar um vinho do Porto exige a mesma dedicação.
FAZENDO O BLEND
A produção de vinho do Porto é, primeiramente, a mescla – convencionalmente chamada de blend ou corte no mundo do vinho – de diferentes uvas a fim de se atingir o equilíbrio perfeito entre sabor e texturas (acidez, corpo e taninos). Ou seja, não existe vinho do Porto feito com uma única variedade de uva.
O próximo passo é a combinação de vinhos de diversos anos, pois, salvo o Vintage e o Colheita que são feitos com vinhos de uma única safra, os outros estilos são resultado da composição de diferentes colheitas, atingindo a consistência de estilo desejado.
Esta técnica se aplica especialmente aos portos Tawny 10, 20, 30 ou 40 anos. A idade mencionada no rótulo corresponde à média de anos dos diversos vinhos que foram usados para compor o corte. Muitos deles ficam armazenados por décadas (repito, décadas!) nos tonéis de carvalho dos armazéns das casas de vinho do Porto. Portanto, um Tawny 30 Anos pode ter em sua composição vinhos de 10, 15 e até 50 anos.
Por isso, chegamos à conclusão que fazer blends é uma arte tanto quanto fazer perfumes refinados. Exige tal sensibilidade que só um profissional experiente consegue decifrar como chegar na composição perfeita entre a ampla oferta de vinhos disponíveis em seus armazéns. Um exemplo disso é que eu e meus colegas fomos convidados a replicar um blend da Sandeman durante o seminário que participei em setembro passado e nenhum de nós foi capaz de chegar ao resultado esperado.
QUANDO TOMAR VINHO DO PORTO?
Como qualquer vinho, o Porto é um ótimo companheiro gastronômico, em especial para acompanhar sobremesas.
Receitas à base de nozes serão enaltecidas pelos Tawnies, do mesmo modo que os doces feitos a partir de chocolate e frutas vermelhas poderão ser deliciados com os Ruby (Reserve, LBV, Vintage), que replicam o paladar de frutas e têm intensidade suficiente para confrontar o sabor do cacau.
Há, ainda, a tendência de usar vinho do Porto – em especial o Porto Branco – como ingrediente de coquetéis como o Portonic, uma inovação que tem atraído o público mais jovem e tirado a ideia de um vinho obsoleto.
Por que consumidos pouco vinho do Porto? Acho que agora não temos mais desculpas.
CLASSIFICAÇÃO DOS VINHOS | |
RUBY
Vinhos com pouco tempo de amadurecimento em madeira (geralmente barris de grande porte), cujo intuito é mostrar o frescor dos aromas e sabores frutados. |
Ruby Reserve: vinho com fruta em evidência e delicioso frescor, para ser consumido imediatamente ou usado em coquetéis! LBV: feito de safras única de grande qualidade, permanecendo de 3 a 6 anos em barris. Consuma imediatamente ou com alguns anos de garrafa. Vintage: vinhos de safras excepcionais que são engarrafados cedo (cerca de 2 anos) com o propósito de envelhecerem por décadas na garrafa, adquirindo riqueza e complexidade. |
TAWNY
Vinhos que ficam armazenados em tonéis de pequeno a médio porte por décadas e visam exibir a complexidade deste envelhecimento. |
10, 20, 30, 40 Anos: vinhos que combinam várias safras que apresentam na média a idade exibida no rótulo. Colheita: vinho de safra única, que foi longamente envelhecido nos tonéis de carvalho. |
Texto por: Bianca Veratti, DipWSET
VINHOS:
Sandeman Founder’s Reserve
Sandeman Late Bottled Vintage
Sandeman Tawny 10 Years
Sandeman Vintage