Quando pensamos em vinho é inevitável não pensarmos na Itália e na França como os candidatos a produzirem os melhores vinhos do mundo. A bem da verdade é que o termo ‘melhor vinho’ pode ser um tanto questionada, começando com uma simples pergunta: melhor para quem?
Não adianta falarmos que o Barolo é o melhor vinho se quem vai consumi-lo não gosta de um tinto encorpado, com taninos marcantes e acidez alta (características típicas desta uva). Não só a pessoa vai discordar, como contestará o alto preço do vinho, afinal um bom Barolo nunca é barato. A conclusão é simples: não necessariamente os vinhos mais famosos ou mais caros são os melhores.
Ao compararmos a produção dos dois países – Itália e França – ambos possuem fama e tradição na produção de vinhos e se revezam anualmente no posto de maior produtor do mundo. Segundo a OIV – Organização Internacional da Vinha e do Vinho – a França ocupou o topo em 2014, quando produziu 46,5 milhões de hectolitros de vinho, porém desde 2015 a Itália têm sido a líder, tendo totalizado 42,5 milhões de hectolitros em 2017.
Quando os gregos chegaram à atual Sicília já encontraram parreiras, porém foram eles os primeiros a desenvolverem ali as técnicas de cultura do vinho que foi, posteriormente, expandida pelo Império Romano. No entanto, o perfil de vinho italiano está altamente ligado à sua região de origem, já que a Itália produz vinho literalmente em toda a sua extensão (de leste a oeste, de norte a sul) e cada uma delas possui um estilo único. O primeiro fator a contribuir para tal singularidade são as mais de 2.000 variedades de uva nativas, sendo algumas conhecidas desde a Idade Média, como é o caso da Barbera e da Trebbiano.
Tão diverso quanto às uvas, o terroir – conjunto de elementos naturais como o clima, o solo e a topografia de cada lugar – é outro elemento que reforça a singularidade de cada região. Cada comuna ou distrito possui identidade marcante que é passada para os vinhos que dali saem, daí o motivo dos vinhos italianos serem mais conhecidos pelos nomes das regiões – Chianti, Barolo, Valpolicella ou Prosecco – do que pelas variedades de uvas. Tais nomes correspondem nada mais, nada menos, às famosas Denominazione di Origine Controllata (DOC) e Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG) e, para o vinho receber esta denominação, o produtor precisa seguir regulamentos rigidamente controlados pelos consórcios locais, que determinam desde a uva permitida até a graduação alcoólica do vinho e processo de vinificação do mesmo.
Com tantas regras, as DOCs e DOCGs tinham por princípio identificarem os vinhos mais nobres italianos, porém as leis acabaram não acompanhando a evolução do mundo vitivinícola e se tornaram ultrapassadas e inflexíveis. Tal fato, somado à tolerância por rendimentos generosos, fez das denominações italianas garantia de origem, mas não necessariamente de qualidade. Isso levou ao aparecimento de vinhos desclassificados (muitas vezes rotulados com Vino da Tavola), cujos produtores preferem não estar associados às DOCs e fazerem produtos livres de tantas regras, porém com personalidade e qualidade diferenciada. Demorou um pouco, mas as autoridades italianas entenderam o recado e em 1992 foram criadas as IGT – Indicazione Geografica Tipica – que têm legislação mais flexível e moderna.
Com tanta diversidade de estilos, uvas e regiões, a Itália pode ser vista como um paraíso dos amantes de vinho, mas também como um labirinto para os pouco experientes. Não se deixe intimidar por isso! Buscar conhecer esta pluralidade e participar de degustações trarão grandes recompensas. O vinho italiano tem sim acidez alta – é típico das uvas italianas e ingrediente perfeito para a gastronomia, além de dar vivacidade ao vinho! Os taninos são marcados? Cada vez mais os produtores têm investido em técnicas de viticultura que visa o melhor amadurecimento dos taninos e buscado fazer uma extração mais delicada durante a fermentação para deixá-los mais macios. Não gosta de vinho doce? Experimente com uma deliciosa sobremesa e verá seu grande valor!
Na Itália, você encontrará tudo isso e muito mais. Assim como a gastronomia italiana não se restringe à massa, os vinhos acompanham esta diversidade e em cada região há a combinação perfeita a ser descoberta.
Texto por Bianca Veratti DipWSET
VINHOS
Zardetto Spumante Private Cuvée Brut, Zardetto – Vêneto
Rosso di Montepulciano, Tentuta Valdipiatta – Toscana
‘Lupi Reali’ Trebbiano d’Abruzzo, Passione Natura – Abruzzo
‘Urceus’ Primitivo di Manduria, Cantolio – Puglia
Nicosia Nero d’Avola, Nicosia – Sicília