Novo Mundo e Velho Mundo são termos usados com tanta naturalidade pelo mercado de vinhos que, por vezes, nos esquecemos que pode causar dúvida aos consumidores quem ainda não teve uma ‘apresentação oficial’, então vamos lá!

Assim como em outros campos, esta nomenclatura indica o local de origem do vinho, sendo o Velho Mundo o conjunto dos países mais tradicionais, tais como a Europa e o Oriente Médio, enquanto o Novo Mundo se refere às suas colônias, descobertas após o século 15 com o surgimento das Grandes Navegações (Américas e Oceania). Tanto quanto a origem, estes termos carregam uma forte carga histórica que acaba se mostrando na taça.

A produção de vinhos no Velho Mundo iniciou-se oito séculos atrás nas colinas da Geórgia, tendo sido disseminada pelos gregos e, principalmente, pelos romanos ao longo da Europa oriental, lançando as bases do que vieram a se tornar a Itália, França, Espanha, Alemanha etc. Com a queda do Império Romano houve o avanço dos povos bárbaros promovendo a criação de novas sociedades até que, na Idade Média, a Igreja Católica se tornou uma das instituições mais importantes da sociedade e proprietária de grandes espaços de terra, aproveitando-os para cultivar uvas e para fazer o vinho da Eucaristia.

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Em um mundo sem tecnologia ou globalização, o modo de cuidar dos vinhedos e produzir vinhos foi passado de uma geração para outra de forma oral ou manuscrita, sem avanços significativos por séculos. Este zelo pela tradição criou uma identidade singular entre o vinho e a terra a ponto de cada vinho passar a ser conhecido pela sua região de origem em detrimento da uva usada. Até recentemente, um Bordeaux era simplesmente conhecido como um vinho francês feito na região da Aquitânia e não por ser um corte de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot entre outras variedades.

Foi daí que nasceu o conceito de terroir – termo muitas vezes mal compreendido. Terroir não se refere somente ao tipo de solo onde o vinhedo é plantado, mas ao conjunto de outros fatores geográficos intrínsecos àquele lugar tais como a altitude e inclinação do terreno, a quantidade de sol, calor e chuva que a videira recebe ao longo do ano e até os animais microscópicos que habitam este ecossistema. Tudo isso influencia a forma como a uva se desenvolve e, portanto, os vinhos refletem o local onde crescem.

Em contrapartida, os povos do Novo Mundo só começaram a ter contato com o vinho com a chegada dos colonizadores europeus, deste modo, não possuíam nenhuma tradição na sua produção. O caminho usados por eles foi o investimento em tecnologia e a mudança na rotulagem dos vinhos, usando as variedades de uva como protagonistas. Este novo enfoque e o crescimento do mercado consumidor americano e asiático, acarretou em uma mudança dramática no mundo do vinho.

Os anos 1980 e 1990 foram marcados por modas ditadas por este gosto universal, que buscava vinhos exuberantes, com graduação alcoólica alta, sabores maduros (como compotas ou geleias) e o forte impacto da madeira. Os produtores europeus começaram a perder espaço e perceberam que era necessário se adequar a este novo mercado, mudando o estilo de seus vinhos – focados em acidez e taninos – para tipos mais frutados e de consumo mais imediato. Ao mesmo tempo que isso ajudou nas vendas, acarretou na perda da identidade que, por séculos, foi sua marca registrada.

Mas não há mal que dure para sempre. Um movimento de valorização do terroir ressurgiu com a chegada dos anos 2000 e hoje vemos um retorno às origens no Velho Mundo e uma preocupação no Novo Mundo em achar a sua própria individualidade, sem perder de vista as descobertas feitas nos últimos 60 anos, que contribuíram consideravelmente para a melhora na qualidade dos vinhos.

A nossa vantagem como consumidores é termos um leque enorme de opções para descobrir e provar, porém temos a obrigação de buscar qualidade, afinal vinho ruim não faz bem nem à alma, nem ao bolso.

 

Vinhos:

Durbanville Hills Pinotage, Durbanville Hills – Cidade do Cabo (África do Sul)

The Stump Jump White, d’Arenberg – McLaren Vale (Austrália)

Tosca Chianti Colli Senesi, Tenuta Valdipiatta – Toscana (Itália)

Château Penin Grande Sélection Bordeaux Supérieur – Bordeaux (França)

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