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Quinta da Romeira

A quarentena imposta devido à propagação da pandemia da covid-19 incentivou a Zahil a criar o quadro de lives chamado Zahil Entrevista, onde temos a chance de conversar com profissionais e enólogos, ao mesmo tempo que estamos em contato com clientes, amigos e seguidores. Não há dúvida que as lives não substituem a experiência de degustar um vinho junto de outras pessoas, mas a facilidade de contato que o mundo digital oferece é ímpar.

António Braga 7Por isso, o anúncio da chegada da Quinta da Romeira ao portfólio da Zahil ganhou um gosto de avant premier, já que pudemos conversar ‘ao vivo’ com António Braga – enólogo responsável por este projeto, bem como o Azevedo, na região de Vinhos Verdes – desde sua casa, no Porto, e sabermos diretamente dele os detalhes por trás desta vinícola histórica (a conversa está disponível no nosso canal do YouTube – clique aqui).

A Quinta da Romeira ocupa 75 dos 170 hectares que pertencem à Denominação de Origem Bucelas, única DO portuguesa totalmente dedicada à vinhos brancos. Para termos percepção do pequeno tamanho desta região, António comparou Bucelas com a dimensão da Quinta da Leda – propriedade da Casa Ferreirinha (também do grupo Sogrape) localizada no Alto Douro e que dá origem às uvas que compõem o blend do Barca Velha – que possui 160 hectares.

Bucelas é uma pequena perola situada a 25 minutos da capital e uma das nove sub-regiões que compõem a Região Vitivinícola de Lisboa, antigamente chamada Extremadura. A mudança do nome, ocorrida em 2009, veio bem a calhar em um momento de expansão do turismo no país e avanço da notoriedade dos vinhos portugueses, afinal lembrar do nome Lisboa é muito mais fácil no mercado internacional que Extremadura. No entanto, este mesmo desenvolvimento econômico inflou os preços do mercado imobiliário da capital e acarretou no avanço da urbanização para as regiões ao redor, gerando pressão na continuidade de produção vitivinícola destas áreas próximas, especialmente Bucelas, Colares e Carcavelos, famosas por fazerem vinhos de qualidade.

A decisão da Sogrape (principal grupo vitivinícola português e um dos maiores do mundo) de comprar a Quinta da Romeira em janeiro de 2019 foi recebida de braços abertos pelos pequenos produtores de Bucelas, já que reforça o valor de seus vinhos bem como é um indicador de investimento no desenvolvimento da região.

Em termos de castas, a principal variedade é a Arinto que, junto com Alvarinho e Encruzado, formam o trio das melhores uvas brancas portuguesas da atualidade! Segundo António Braga, uma boa casta se apresenta pela sua capacidade de ‘viajar bem’. Ou seja, pela sua habilidade de se adaptar a diferentes terroirs, alcançando características distintas em cada um deles. É o que acontece com a Arinto. É possível encontrá-la deste a região dos Vinhos Verdes, onde dá volume ao blend, no Douro, onde aporta frescor aos vinhos, na Bairrada até chegar em Bucelas. Aqui, a Arinto apresenta teor alcoólico relativamente baixo (entre 11,5-12%) e acidez alta que são equilibrados por sabores de fruta madura e excelente potencial de envelhecimento em garrafa, onde, segundo Braga, ganha riqueza de textura e aromas minerais, semelhantes à Riesling.

Além da Arinto, é também permitido na composição do blend o uso das variedades Rabo de Ovelha e Esgana Cão (conhecida como Sercial na Bairrada e com acidez muito alta, por isso era plantada nos arredores dos vinhedos principais para afastar animais ávidos por uvas doces).

Solos1António nos relatou que neste primeiro ano de operação na Quinta da Romeira, houve forte investimento na identificação dos tipos de solo (calcário com fósseis, argila e marga) e suas localizações para definirem as melhores técnicas de viticultura e condução dos vinhedos. Possivelmente serão feitas algumas substituições de porta-enxertos e sistemas de treliças, mas a Arinto permanecerá a uva principal, ainda que ele tenha confessado que gostaria de ter uma pequena parcela com Esgana Cão e Rabo de Ovelha para dar complexidade aos vinhos.

O histórico casarão com janelas manuelinas – que se tornaram parte integrante do novo logotipo da vinícola – está sendo restaurado. Foi ali que o Duque de Wellington usou como paragem no século 19, quando auxiliou Portugal contra as invasões Napoleônicas. Terminado o conflito e de volta à Londres, o Duque apresentou à corte inglesa os vinhos de Bucelas, que se tornaram preferidos de muitos nobres, ficando conhecidos como Portuguese Hock (provavelmente devido a semelhança aos vinhos alemães de Baden, feitos ao redor da cidade de Hockenheim).

O vinho que marca a chegada da Quinta da Romeira na Zahil é o Prova Régia, feito na sua totalidade com Arinto. É leve, refrescante, porém com textura cremosa e um toque mineral (pedras molhadas) no final, que o deixa prazeroso sem ser monótono. Ótimo para acompanhar frutos do mar e ostras.

A safra 2018 foi a última antes da chegada da Sogrape à Romeira e ainda apresenta a identificação de Indicação Geográfica Protegida Lisboa, pois mesmo sendo feito majoritariamente com uvas da propriedade, naquele ano foram incorporadas uvas cultivadas fora de Bucelas. No entanto, recebemos em primeira mão a notícia que em breve o Prova Régia se tornará um DOC Bucelas, mostrando ainda mais a qualidade desta região.

Texto por Bianca Veratti DipWSET

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