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Single Vineyards

Há um ditado que diz que na humanidade ‘nada se cria, tudo se copia’. Sem dúvida, sempre houve um pioneiro para cada ideia que veio a ser copiada e acredito que se ela foi replicada é porque foi revolucionária desde o seu princípio.

No mundo do vinho, o Velho Mundo teve tantos séculos e até milênios de experiência que o coube ao Novo Mundo por muito tempo se curvar às suas descobertas. Claro isso não é mais regra, porém ela se aplica ao atual assunto do momento: os single vineyards – ou vinhos de um único vinhedo – onde os pioneiros foram os famosos monges europeus do século 12.

Medieval Age Monge bebendo vinhoA associação do vinho à religião vem desde os fundamentos judaicos, onde a videira passou a ser usada como um dos símbolos de Israel no Antigo Testamento. O cristianismo assumiu a mesma videira e, principalmente, o vinho como o símbolo supremo do sangue de Cristo, sendo usado nas celebrações da Eucaristia. Logo, não é de se espantar que durante a expansão do Império Romano a classe religiosa cristã cultivasse vinhedos para produzir tal vinho, ganhando grandes proporções durante a Idade Média na Europa Central, quando a nobreza e a realeza presentearam as ordens religiosas com seus melhores vinhedos.

Os monges cistercienses, em especial, tinham a cultura de manter relatos sobre todas suas atividades, incluindo a produção de seus vinhos. Cada safra era cuidadosamente registrada, bem como os métodos de produção e as diferenças entre os vinhos de cada ano. Sua percepção foi mais longe: eles perceberam distinções entre vinhos vindos de vinhedos vizinhos, chegando logo à conclusão que algo no entorno influenciava este resultado (clique aqui para ler o nosso post sobre a Borgonha). Em pouco tempo, começaram a identificar estas parcelas com nomes específicos (chamados climats) e não foi surpreendente quando a implantação do sistema de Denominação de Origem da Borgonha, ocorrida na década de 1930, colocou os vinhedos identificados como melhores pelos monges no topo da pirâmide, recebendo o nome de Grand Crus.

Como vimos em temas passados (leia aqui), por muito tempo o Novo Mundo focou a sua produção nas variedades de uvas, dando prioridade a elas em detrimento da região, porém a década de 1980 despertou um movimento em países como Estados Unidos e Austrália seguidos pela Argentina e Chile, de classificarem suas principais regiões produtoras de vinho. Nomes como Napa Valley (Califórnia), Mendoza (Argentina) e Hunter Valley (Austrália), logo evoluíram para suas sub-regiões como o Vale do Uco, local mais nobre em Mendoza devido sua altitude.

O passo mais recente veio com a inquietação da nova geração de produtores destes países em conhecer ainda melhor as suas terras, consistindo na repetição do que foi feito pelos monges no século 12 na Europa. Viticultores, enólogos e pesquisadores têm buscado entender as particularidades de pequenas parcelas de seus vinhedos e a forma como as variedades de uva expressam estas diferenças em seus vinhos. Surgiram assim os single vineyards, vinhos que buscam ser expressões máximas do local onde nasceram.Rutini Vineyrads

A Argentina deu um salto surpreendente, saindo dos seus tradicionais malbecs encorpados e intensos para vinhos mais elegantes, com foco no frescor e na delicadeza de frutas. É especialmente interessante confrontar vinhos feitos com a mesma variedade vindos de single vineyards distintos, comparando não só seus aromas mas também a textura de taninos, o volume em boca e seu frescor. Este exercício exige do apreciador atenção aos detalhes, mas, mais do que isso, uma mudança na forma como enxerga os vinhos de regiões antes vistas como produtoras de vinhos do dia-a-dia para algo especial e único. Ao mesmo tempo, é emocionante assistirmos de camarote a empolgação destes produtores com a evolução de seus vinhos.

Texto por: Bianca Veratti DipWSET

 

Vinhos:

Single Vineyard Finca El Tomillo Malbec, Bodegas Salentein – Vale do Uco (Argentina)

Rutini Single Vineyard Altamira Cabernet Sauvignon, Rutini Wines – Tupungato (Argentina)

Mercurey ‘Les Naugues’ Premier Cru, Domaine François Raquillet – Côte Chalonnaise (Borgonha – França)

Nuits Saint Georges ‘Clos des Porrets’ Premier Cru, Domaine Henri Gouges – Nuits Saint Georges (Borgonha – França)

Clos Ste. Hune – Riesling, Trimbach – Alsácia (França)

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