Estamos vivendo um momento onde a preocupação com a qualidade de vida, a longevidade e a saúde do nosso planeta ganharam relevância sem precedentes. A crescente procura por alimentos orgânicos e de agricultura sustentável é um reflexo disso e não poderia diferente no mundo do vinho.
Efetivamente, a consciência de que produtos químico-sintéticos (fertilizantes, pesticidas, etc) são potencialmente danosos surgiu somente na década de 1960, quando a bióloga marinha Rachel Carson publicou o livro “Primavera Silenciosa” despertando a sociedade para os problemas ambientais e salutares que o planeta estava começando a viver. Sendo o vinho o resultado de uma cultura agrícola (conhecida como viticultura), ele é diretamente afetado pela maneira como o vinhedo é cultivado. Mais do que isso, o ecossistema daquele pedaço de terra, a saúde de seus habitantes e a dos futuros consumidores também se tornam potenciais vítimas do uso desordenado destes produtos.
Nasceu assim a agricultura “verde” com suas inúmeras variações e que são detalhadas a seguir.
Cultivo convencional
É usada na grande maioria dos vinhos produzidos em todo o mundo, onde os produtores se valem de tecnologias, técnicas e produtos variados, em geral com presença de agentes químicos. Além deles, é comum o abuso de técnicas de produção como irrigação excessiva, que podem vir a descaracterizar o vinho a ponto de tornar a variedade de uva e a origem irreconhecíveis.
Cultivo integrado
Também conhecida como lutte raisonée, corresponde às técnicas de cultivo alternativas que visam uma cultura menos dependente de agentes artificiais e que se aproximam ao máximo do cultivo “orgânico” sem, no entanto, se prenderem ao termo ou às exigências dos órgãos certificadores.
Os viticultores são encorajados a cuidarem dos vinhedos com adubos orgânicos (ex. compostagem) e controlar pragas com predadores naturais. Caso o problema não seja solucionado, é realizado o uso de agentes sintéticos para contornar a questão.
Orgânico
O objetivo é prevenir o aparecimento de doenças desenvolvendo plantas resistentes e em harmonia com o ecossistema ao seu redor. Todos os produtos devem ser de origem natural e facilmente recicláveis após o seu uso.
O termo gera alguma confusão, pois há “vinhos produzidos a partir de uvas orgânicas” e “vinhos orgânicos”. A diferença é que no primeiro caso, as uvas são cultivadas sem o uso de produtos sintetizados em laboratório e, no segundo, o vinho também não recebe adição de químicos (em especial SO²) durante sua produção na adega.
Biodinâmica
Uma das formas de cultivo mais polêmicas, a cultura biodinâmica oferece uma abordagem holística e, em certa medida, esotérica. Baseada nos estudos antroposóficos do filósofo austríaco Rudolph Steiner, a biodinâmica defende que a agricultura é influenciada pelo movimento dos astros e sua relação com o planeta Terra.
A alemã Maria Thun se aprofundou ainda mais usando o legado de Steiner para criar um calendário baseado nos arranjos cósmicos para identificar o momento certo de realizar os trabalhos no vinhedo (ex. poda, colheita, adubagem, etc.), já que, segundo ela, cada astro influencia diretamente um determinado elemento da planta e do próprio vinho.
Independentemente do debate filosófico, é fato consumado que precisamos cuidar do nosso planeta para as futuras gerações usufruírem dele com qualidade e bem-estar, tendo o homem a consciência que sua decisão de intervir na natureza irá se refletir no futuro da humanidade e do planeta.
Texto por Bianca Veratti DipWSET e Bernardo Pinto DipWSET
SUGESTÃO DE VINHOS
Sossego Tinto – cultivo integrado
Lupi Reali Trebbiano d’Abruzzo – orgânico
d’Arry’s Original – biodinâmico